quarta-feira, 27 de maio de 2009

Balada do caixão
















O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte,
Ponteia e cose, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda sorte:
Mogno, debruados de veludo,
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vai aborrecer,
Fui-me lá, ontem:(era Entrudo, Havia imenso que fazer...)
-Ola bom homem quero um fato,
Tem que me sirva? - Vamos ver...
Olhou, mexeu na casa toda.
-Eis aqui um e bem barato.
-Está na moda? - Está na moda.
(Gostei e nem quis apreça-lo: muito justinho, pouca roda...)
- Quando posso mandar buscá-lo?
- Ao pôr-do-sol. Vou dá-lo a ferro:
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo...)
Ó meus Amigos!Salvo erro,
Juro-o pela alma, pelo céu:
Nenhum de vós, ao meu enterro,
Irá mais dândi, olhai! do que eu!

Devo confessar minha parca sabedoria e conhecimento sobre esse autor português, assim como também devo dizer que esse poema, em particular, embora bastante mórbido, também é bastante expressivo. Nada como ter um António Nobre.

domingo, 17 de maio de 2009

Mais alguns Detalhes
























































Por ventura de ser.

Não é tempo de sermos medíocres,
vamos levantar a daga afiada ,
as mãos em punhos serrados;
deixemos de ser fracos e torpes .

Neguemo-nos a essas putas ,
também a seus filhos ridículos,
levantemo-nos bravamente;
que seja restaurado o poder.

Povo não se subestime,
é tempo de mostrar quem somos;
lutai ó povo outrora apequenado.

Não abdiquemos nosso poder,
tomemos aquilo que é nosso;
ao povo flores, ao resto morte.


Procuro sempre manter uma relação entre a palavra e a imagem, mas ao escrever esse poema, e que posso dizer que não é justo chama-lo de soneto, não encontrei nenhuma imagem que por ventura ilustrasse a indignação ou mesmo perplexidão que sinto de fazer parte desta terra, já tão moribunda e fraca de gente, para mais uma vez levantar e lutar. Não quero incitar e/ou fazer qualquer apologia, mas até quando vamos baixar a cabeça e os punhos, até quando será tempo de nos deixarmos envergonhar por uma política feita por ladrões e/ou abostados, não digo isso por sermos gaúchos ou brasileiros, digo por sermos "Povo".
Voltou o tempo em que devemos lutar contra os diretores mesquinhos, as autoridades envelhecidas pelo poder, as falsas leis, as falsas religiões, aos falsos homens, deveríamos ter vergonha de quem somos por aceitarmos a religião que o "Estado" e o "Direito" nos impuseram. Sou muito mais que bairrista ou patriota, sou um ser vivo em pleno estado de letargia por ter minha mão riste em quanto outros encontram-se de cabeça baixa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Nada é mais explicativo.















Bom já falamos sobre Amor, sobre alguns Detalhes, sobre Páscoa, Religião e outras coisinhas mais, por tanto hoje é dia de falar de "nada", ou melhor "sobre nada".
Bom não sei o que acontece com outras pessoas, mas eu acredito que na verdade não existe o "nada", pois isso que chamamos "não fazer nada" é o que nos constroi, e justamente isso que nos dá uma identidade, pois vejamos isso dessa forma:
Fazer nada é justamente construir quem somos, se estamos parados observando, estamos pensando e construindo uma opinião sobre o que observamos, se estamos com nossos pares estamos "namorando", estamos construindo a relação, e refletindo sobre ela, se estamos nos dirigindo para algum lugar, não caminhamos apenas, mas estamos fazendo um caminho previamente escolhido, e essas coisas dizem muito de nós.
Algum tempo atrás comecei a escrever um pequeno ensaio ficcional sobre a vida de um casal, que na verdade não fazem nada, o homem trabalha - na sua opinião muito, mas pouco para o que ele realmente quer - a mulher tem seu trabalho também, mas ambos sabem, ou não, que o que eles realmente fazem durante suas vidas é rotina, ou seja, eles se controem através dessas pequenas coisas que não dizem "nada". Obviamente que existem outras coisas na historia, mas são fragrâncias, nada que realmente tenha um grande impacto na vida de qualquer um, só que é justamente isso que faz a diferença, pois a rotina, o nada, e o detalhe estão muito próximos em determinados momentos.
Nessa ficção existem apenas dois acontecimentos extraordinários, o primeiro é a chegada de um doente no hospital onde o homem trabalha e o segundo é a "gravidez" da mulher, a principio nada disso tem uma relação continua ou mesmo fragmentada, mas é justamente isso que une os acontecimentos, pois não existe - na minha opinião - outra coisa se não o nada que faz e/ou dá sentido a vida das pessoas. Estamos a tanto tempo esperando o acontecimento do ano, que não reparamos nos acontecimentos mais banais de nossa historia, não notamos o "nada" de nossas vidas e o milagre se perde, o detalhe se esvazia, e o grande acontecimento se torna fugaz, pois quando ele chegar o que vai garantir sua real importância?
Vamos estar a tanto tempo querendo isso, que quando ele chegar pode ser que nem notemos, ou então que ele chegue, que a gente note, mas que ele não vai ter mais nada pra nos falar quando acabar, e desta forma vamos ter esperado o que??? O fim, ou vamos ter esperado que alguma coisa aconteça que nos mude depois?
É a historia do vestibular, quando estudamos para isso - e digo por mim - queremos passar e quando passarmos vamos ter uma vida diferente, nossa vida vai mudar, engano minha gente a vida vai continuar a mesma, nada de especial vai realmente mudar, mas é isso que faz a diferença, pois não deveríamos esperar por isso como se realmente nossas ações futuras dependessem disso, não quero dizer com isso que devemos ser passivos, mas pensem, o que faz nossas vidas mudarem, o que nos faz ter aquela ideia milagrosa, ou mesmo aquilo que nos trás a alegria das coisas???
É justamente o "nada", é o acontecimento cotidiano, é o detalhe mais improvável, o olhar mais despropositado, por isso começo a pensar que a melhor maneira de se construir qualquer coisa é a partir do "nada".