quarta-feira, 27 de maio de 2009

Balada do caixão
















O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte,
Ponteia e cose, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda sorte:
Mogno, debruados de veludo,
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vai aborrecer,
Fui-me lá, ontem:(era Entrudo, Havia imenso que fazer...)
-Ola bom homem quero um fato,
Tem que me sirva? - Vamos ver...
Olhou, mexeu na casa toda.
-Eis aqui um e bem barato.
-Está na moda? - Está na moda.
(Gostei e nem quis apreça-lo: muito justinho, pouca roda...)
- Quando posso mandar buscá-lo?
- Ao pôr-do-sol. Vou dá-lo a ferro:
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo...)
Ó meus Amigos!Salvo erro,
Juro-o pela alma, pelo céu:
Nenhum de vós, ao meu enterro,
Irá mais dândi, olhai! do que eu!

Devo confessar minha parca sabedoria e conhecimento sobre esse autor português, assim como também devo dizer que esse poema, em particular, embora bastante mórbido, também é bastante expressivo. Nada como ter um António Nobre.

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