A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
Não sei exatamente quando conheci esse texto, mas sei exatamente o que ele me transmite. Em algum momento só podemos contar com a nossa verdade, seja ela parcial ou mesmo julgada completa.
O fato na verdade, é que sempre teremos os dois caminhos, e nem por isso será um menos válido do que o outro, no em tanto, as pessoas querem saber "a verdade", mas como explicar a verdade, como dizer que o que temos a ofertar-lhes é nossa verdade?
De nada vale aquilo que temos a dizer e/ou oferecer, temos apenas que cumprir com o fardo de satisfazer aquilo que outrem nem sabe o que é. A verdade é realmente esclarecedora, mas saber de fato qual verdade queremos, é quase como dizer " quero ouvir apenas o que me convém, seja bom ou ruim".
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